Equipe do ex-atacante sugere abertura de processo de Recuperação Judicial ou Extrajudicial e propõe assumir parte da dívida tributária em troca de arrendamento de CTs
Oitenta e sete dias após assinar a carta de intenção para a compra da SAF do Cruzeiro, Ronaldo ainda não concluiu a aquisição. Negociações sobre pontos cruciais o separam da assinatura da documentação definitiva. O empresário encontrou problemas na estrutura do negócio e apresentará à política cruzeirense novas condições para concluir a operação.
O ge conversou com Gabriel Lima, membro do comitê de transição e um dos homens de confiança de Ronaldo, com exclusividade. O executivo explicou quais são essas condições e por que essa equipe, que administrará o futebol cruzeirense após a compra da SAF, entende que elas são necessárias para que o negócio seja seguro e sustentável.
Um dos problemas mais graves está na dívida tributária. Da maneira como a compra foi alinhada, em dezembro, a SAF não se responsabilizaria pelo pagamento desse passivo com o governo. Hoje, o estafe de Ronaldo vê riscos para a operação do clube-empresa.
A transação tributária que a associação cruzeirense conseguiu com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN), em outubro do ano retrasado, tem como garantia de pagamento a Toca 1, um dos centros de treinamento do clube. Caso as parcelas não sejam pagas pela associação, esse bem estará sujeito a execução.
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Aditivo de acordo entre Cruzeiro e PGFN, feito em agosto de 2021, tem como garantia a Toca 1 — Foto: Reprodução
Ronaldo vai propor aos associados cruzeirenses a seguinte condição: a SAF assumirá a responsabilidade de pagar parte da dívida tributária – a ser renegociada mais uma vez, por meio do Programa de Retomada do Setor de Eventos (Perse) –, mas os centros de treinamento (Toca 1 e Toca 2) deverão ser arrendados para a empresa.
Ainda não estão claras as condições desse arrendamento, como prazos e valores. Mas é certo que, ao comprovar o pagamento dessa dívida tributária, haverá a previsão de transferência dos ativos da associação para a empresa. Além disso, a equipe de Ronaldo acredita que a operação protegerá os centros de treinamento de execuções.
– As Tocas são o lugar em que a gente exerce a nossa finalidade. Eu não posso ter risco de perder esses dois imóveis. É por isso que a gente tá pedindo para gerir esses ativos. Eu não posso perdê-los daqui a pouco. Como eu fico? Onde o clube treina? – diz Gabriel.
– Como é que eu faço um investimento em infraestrutura sem saber se esse CT, daqui a dois ou três anos, ainda pertencerá a mim? Sabendo que ele pode ser perdido num não pagamento de alguma dívida. Ou que pode ser dado em garantia para outra dívida que eles possam vir a assumir? Então esse é o ponto fundamental – completa o executivo.
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Ronaldo, futuro proprietário de 90% da SAF do Cruzeiro — Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro
Além disso, Ronaldo pedirá aos associados cruzeirenses a autorização para a abertura de um processo de Recuperação Judicial ou Extrajudicial. Ambas são ferramentas usadas para recuperar empresas em situações falimentares, por meio de renegociação coletiva com credores de naturezas cível e trabalhista.
Se o pedido for atendido por associados cruzeirenses, o processo se aplicará na associação civil, Cruzeiro Esporte Clube, da mesma maneira que optou o Figueirense.
Neste ponto, o Cruzeiro se diferenciaria de outros clubes, como Botafogo e Vasco, que optaram pelo Regime Centralizado de Execuções para renegociar dívidas cíveis e trabalhistas. O estafe de Ronaldo considera que a Recuperação Judicial ou Extrajudicial é mais segura, do ponto de vista jurídico, e também mais interessante economicamente.
– Se você faz o RCE, a taxa de correção da dívida é pela Selic [nota da redação: atualmente, a Selic está em 10,75% ao ano]. Se você faz RE ou RJ, a taxa dá 1,5%. Só isso já muda completamente de figura o negócio. A Selic é muito maior do que a outra taxa. Sem considerar deságio, só isso já faz o negócio mudar completamente de figura. E também a RE e a RJ estão dentro de legislação que não é tão antiga, mas foi muito mais testada – explica Gabriel.